quarta-feira, 20 de novembro de 2013

REFLEXÕES SOBRE O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - 20 DE NOVEMBRO.

 
 
REFLEXÕES SOBRE O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - 20 DE NOVEMBRO.
 COMO É POSSIVEL HONRAR UM ASSASSINO?


Já havia escrito sobre o tema, mas escrevo de novo, sabendo que malhar em ferro frio não resolve e que infelizmente os meus irmãos negros brasileiros nunca protestaram pela escolha de ZUMBI como patrono.

  
No dia 20 de novembro, por força de Lei, o Brasil comemora o “Dia da Consciência Negra” e recorda a figura de Zumbi dos Palmares, como sendo um líder e defensor dos negros escravizados no Brasil. Infelizmente sabe-se muito pouco sobre a verdadeira história de Zumbi – cogita-se até que seu nome correto seja Zambi –, mas é certo que ele viveu no século XVII, em pleno período colonial.  E a história diz que quem viveu próximo do poder no século XVII tinha escravos, e, sobretudo quem liderava algum povo de influência africana. Alguns autores e estudiosos levantam a possibilidade de que Zumbi não tenha sido o verdadeiro herói do Quilombo dos Palmares e sim seu tio, Ganga-Zumba: "Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniqüidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia”.

  
   Segundo esses autores, Ganga Zumba teria sido assassinado por Zumbi, após o que os negros de Palmares o elevaram a categoria de chefe: "Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo”.. Seu governo também teria sido caracterizado pelo despotismo: "Se algum escravo fugia dos Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela ‘severa justiça’ do quilombo". Hoje, Zumbi esta sendo considerado o maior herói negro da história do Brasil, o homem em cuja data de morte – 20 de novembro de 1695 - se comemora com várias solenidades em muitas cidades do país como o Dia da Consciência Negra. Entretanto, será que é heroísmo para os movimentos negros brasileiros, que uma pessoa como Zumbi, que mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados, como escravos, no Quilombo dos Palmares?

 
   Por outro lado, Zumbi também sequestrava a mulheres, o que era raro nas primeiras décadas do Brasil, e executava a todos aqueles que quisessem fugir do quilombo. E porque poderiam querer fugir, se ali tinham a “liberdade”? Essa informação talvez possa parecer ofensiva para algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou de censurá-la em seus escritos ou discursos, mas na verdade trata-se de um dado óbvio, demonstrado que Zumbi tinha escravos negros.

 
    A cada dia que passa, eu fico mais perplexo com o que vejo relacionado com intolerâncias de todos os tipos – sociais, politicas, religiosas, sexuais e até raciais. E quase que diariamente a mídia nos acena sobre essas intolerâncias, o que me faz lembrar as palavras de José Saramago ao receber o Premio Nobel de Literatura em 1998: "(Esta) é uma sociedade esquizofrénica que tem a capacidade de enviar instrumentos a outro planeta para estudar a composição de suas rochas, mas permanece indiferente ante a morte de milhões de personas. Ir a Marte parece mais fácil que ir até o próximo".

 
    É triste, mas se realmente fossemos e nos comportássemos como seres humanos, todos os dias deveriam ser dedicados à consciência humana, e que todas as comemorações deveriam ter conotações de que a solução para todos os tipos de intolerância é uma verdadeira prioridade. Mas isso não acontece no Brasil, e no dia 20 de novembro, por falta de conhecimento e consciência, o governo estará celebrando o “Dia Nacional da Consciência Negra”, com comemorações em todo o país, já que por incompetência dos nossos governantes e políticos em geral, não existe uma consciência nacional. E para cumulo do absurdo, a figura central que impuseram para essa comemoração é o “mestre Zumbi dos Palmares”, que, nesse mesmo dia do ano de 1695, foi assassinado. Assim, por ignorância da história e de quem foi Zumbi, surgiu como um ícone da resistência do povo negro e da luta contra a escravidão, um negro escravagista e que matava negros sem piedade.

 
  Celebrar a memória de Zumbi dos Palmares viria ser a resposta dada pelos organizadores, para lembrar que a abolição foi um processo inacabado e que só seria plenamente terminado pela pressão do movimento negro. O Dia da Consciência Negra viria a ser então o fruto do movimento negro brasileiro para questionar a vertente histórica que marca o fim a escravidão como sendo o dia 13 de maio, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.  Sugere-se também que a Lei Áurea não trouxe uma verdadeira libertação, pois apesar da legalidade da alforria, indicam o surgimento de outras formas de opressão e de negação do direito à cidadania dos negros. Isso porque os mecanismos de exclusão assumiram facetas diferenciadas, como não darem o acesso dos negros à educação, ao emprego renumerado, à moradia digna e outras de beneficio à população em geral, que já existiam no século XIX.

 
   Na realidade, em parte, isso é certo, mas são muito poucos os que têm a coragem de afirmar a verdadeira história e de que foi a República, proclamada sob a mira de fuzis e como uma revolução militar, a grande culpada pela exclusão dos negros. Foi a república que os rejeitou e que destruiu todos os programas de integração dos negros na sociedade e na economia, elaborados com a orientação da Princesa Isabel, e que deveriam ser realizados.

 
   Devemos nos lembrar também que em 22 de novembro de 1910, em pleno regime republicano, um levante de marinheiros agitou o Rio de Janeiro, quando cerca de dois (2) mil negros, liderados por João Cândido Felisberto, tomaram dois navios de guerra, apontaram seus canhões para a sede do governo e exigiram o fim dos castigos corporais que eram aplicados. O protesto durou uma semana e surpreendeu a Marinha e a elite branca dominante, que foram obrigadas a ceder às exigências. João Cândido, nascido em 1880, era filho de ex-escravos e aos 14 anos entrou para a Marinha Brasileira, que na época era composta por 50% de negros, 30% de mulatos, 10% de caboclos e 10% de brancos. A maioria dos marinheiros era composta por homens pobres, filhos de escravos, que recebiam salários irrisórios e eram constantemente humilhados pela minoria branca. Somente aí que é que a chibata – símbolo da escravidão, abolida há 22 anos – mas ainda vigente na marinha republicana do Brasil, foi então proibida e os revoltosos anistiados.

 
  Foi com gritos de “viva a liberdade” que os marinheiros negros comemoraram a vitória contra o racismo e a exploração. Entretanto, um mês depois, o então presidente da república, o Marechal Hermes da Fonseca, traiu os compromissos e partiu para a revanche, ordenando a prisão dos 18 negros líderes do movimento, entre eles João Cândido, o “Almirante Negro”, que foram detidos e torturados na Ilha das Cobras.  Assim procedia a republica do Brasil que só beneficiou as elites e não o povo. Lembro que o horror das masmorras da marinha brasileira levou a João Cândido ser internado no Hospício Nacional de Alienados para exames de sanidade.
 
 
   Depois de solto, João Cândido quem é um verdadeiro herói dos negros, passou a viver como vendedor de peixes no Rio de Janeiro, onde morreu em 1969, aos 89 anos, doente de câncer, sem sua patente militar e na miséria. Somente depois de morto é que seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. Tudo isso aconteceu na república, pois as elites não perdoaram a monarquia por ter abolido a escravidão, e foi a República que nada fez pelos escravos libertos pela Princesa Isabel, e os manteve vivendo num submundo e explorados.


Drº Alberto Rosa Fioravanti
Conselheiro Vitalício - CMB

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A FARSA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA



"É triste saber, que como resultado de uma disputa amorosa entre Deodoro da Fonseca e Silveira Martins, tenha sido decisiva no golpe de Estado de 1.889 "



   É triste saber que, como eu fui, hoje os nossos filhos e netos são enganados com a história da Proclamação da República, dessa República que se aproveita do povo, que compra votos e não cura a miséria. Os textos escolares não ensinam, mas a mídia da época indica que a despeito da intensa propaganda republicana, a ideia da mudança de regime político, de monarquia para república, não ecoava no país, pois em 1884, apenas três republicanos foram eleitos para a Câmara dos Deputados; na legislatura seguinte, apenas um e na última eleição realizada no Império do Brasil, a 31 de agosto de 1889, o Partido Republicano só elegeu dois deputados.

   Como não conseguiriam realizar seu projeto pelo voto, os republicanos para concretizar suas ideias optaram por um golpe militar, procurando capitalizar o descontentamento das classes armadas com o governo civil do Império. Como precisavam de um líder de prestígio na tropa, para levar a efeito seus planos, se aproximaram de Deodoro (um “ingênuo”) procurando seu apoio para um golpe de força contra o governo imperial. Isso foi difícil, pois Deodoro era de convicções monarquistas, era amigo declarado do imperador Dom Pedro II e lhe devia favores.

   Em 14 de novembro de 1889, os republicanos fizeram correr o boato, absolutamente sem fundamento, de que o governo do primeiro-ministro visconde de Ouro Preto havia expedido ordem de prisão contra o Marechal Deodoro e o líder dos oficiais republicanos, o tenente-coronel Benjamin Constant. Tratava-se de proclamar a República antes que se instalasse o novo parlamento, recém-eleito, cuja abertura estava marcada para o dia 20 de novembro. A falsa notícia de que sua prisão havia sido decretada foi o argumento decisivo que convenceu Deodoro finalmente a levantar-se contra o governo imperial. Pela manhã do dia 15 de novembro de 1889, o marechal reuniu algumas tropas e as pôs em marcha para o centro da cidade, dirigindo-se ao Campo da Aclamação, hoje chamado Praça da República. Penetrando no Quartel-General do Exército, Deodoro decretou a demissão do Ministério Ouro Preto – providência de pouca valia, visto que os próprios ministros, cientes dos últimos acontecimentos, já haviam telegrafado ao Imperador, que estava em Petrópolis, pedindo demissão. Ninguém falava em proclamar a República, tratava-se apenas de trocar o Ministério, e o próprio Deodoro, para a tropa formada ante o Quartel-General, ainda gritou "Viva Sua Majestade, o Imperador!

   Enquanto isso, em vista dos acontecimentos, Dom Pedro II reuniu o Conselho de Estado no Paço Imperial, aceitou a demissão do visconde de Ouro Preto e iniciou a organizar o novo Ministério.  Os golpistas, para convencer a Deodoro romper os laços com a monarquia, na noite do dia 15, o informou que o novo primeiro-ministro, escolhido pelo Imperador, era Gaspar Silveira Martins, correligionário do visconde e político gaúcho, com quem o Marechal não se dava por conta de terem disputado o amor da mesma mulher na juventude.

   A História oficial não diz, mas foi por causa de uma mentira e uma dor de cotovelo que nasceu a República do Brasil e o irresponsável Deodoro derrubou o regime, desrespeitou a Constituição e fechou o congresso. Pelo erro de Deodoro vemos os absurdos da república de hoje!




Drº Alberto R. Fioravanti
Conselheiro Vitalício do CMB


Artigo publicado em 15 de novembro de 2013 no jornal “O Diário” de Campos dos Goytacazes.



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

À Princesa D. Isabel

"Se tudo o que está acontecendo hoje é por causa
da lei que assinei, ainda assim assinaria de novo!
(Princesa D. Isabel, logo após o golpe republicano)

Há 92 anos, o Brasil perdia uma grande cidadã!

Aos 04 anos de idade, a Princesa D. Isabel, filha mais velha do Imperador D. Pedro II, era aclamada a Herdeira do Trono Brasileiro! Aos 14 anos, a Princesa jurou a Constituição Imperial e teve a oportunidade, anos à frente, de governar o Brasil por três vezes, quando se tornou regente do Império na ausência de seu pai.

A D. Isabel morreu um dia antes de mais um aniversário do golpe republicano. Talvez tenha sido até uma espécie de Providência, para evitar mais um dia de lembrança dolorosa do fatídico 15 de novembro de 1889. Apesar de que, tenho certeza que as más lembranças, assim como as boas, não as deixava em paz independente do mês.

D. Isabel foi uma mulher valorosa, que estava à frente de seu tempo. Idealizou o voto feminino e lutaria por ele se os golpistas tivessem suportado a abolição da escravidão sem indenização, aprovada e assinada por ela no ano anterior ao golpe. De coração que não cabia em seu peito, lutou arduamente pela causa abolicionista, facilitando, inclusive, o acesso a cargos políticos às pessoas que fossem favoráveis à abolição.

Teve uma educação voltada para os negócios de Estado, pois na ausência de um Herdeiro varão, D. Pedro sabia que precisava educá-la para receber todas as responsabilidades de governante e Chefe de Estado. Dizem que certa vez a Princesa, ainda menina, em meio à uma multidão de gente, pergunta ao pai:

- Papai, todos eles um dia serão meus?

Ao que D. Pedro responde sabiamente:

- Não Isabel! Um dia, você pertencerá a todos eles!

O 15 de novembro (hoje comemorado como feriado Nacional), foi duro para a Princesa, que não entendia como pessoas tão próximas ao Imperador, podiam ter tramado aquela indecência, aquele Golpe de Estado. A dor do banimento a afetou. Foi embora triste, mas firme de que fez pelo Brasil o seu melhor! O banimento da Família Imperial só foi revogado na década de 1920, mas a Princesa D. Isabel nunca pôde fazer a viagem de volta à sua terra natal. Estava muito velhinha para isso. Passou pela morte do pai, da mãe e de dois filhos; morrendo pouco antes que seu esposo, o Conde D'Eu, que também não conseguiu chegar ao Brasil, tendo morrido no Oceano, na viagem de volta.

Assim como D. Pedro II, a Princesa D. Isabel merece sua retratação histórica. Pessoas sem muito conhecimento ainda disparam suas inverdades nascidas de um ensino doutrinatório. Hoje a Princesa tem um processo aberto de beatificação na Igreja Católica, ou seja, ela é vista como uma mulher que levou uma vida digna de um cristão verdadeiro. Era inabalável em sua fé católica!

E essa é minha humilde homenagem a Princesa! Que Deus tenha guardado um lugar muito especial para ti, D. Isabel, pois és merecedora! E que a História um dia faça jus a tudo que representas!

Em Paris, 1906, assistindo ao voo do 14 Bis.