domingo, 1 de fevereiro de 2015

[Espaço do Leitor] ALMIRANTE SALDANHA DA GAMA NA DIPLOMACIA DO MARECHAL

ALMIRANTE SALDANHA DA GAMA NA DIPLOMACIA DO MARECHAL
- Um coração monarquista na Revolta da Armada. 1893. –


Em um manifesto de 7 de dezembro de 1893, disse Saldanha da Gama: “A lógica, assim como a justiça dos fatos, autorizaria que se procurasse à força das armas, repor o Governo do Brasil onde estava a 15 de Novembro de 1889, quando num momento de surpresa e estupefação nacional, êle foi conquistado por uma sedição militar de que o atual governo não é senão continuação.” (preâmbulo da obra “A Diplomacia do Marechal – Intervenção estrangeira na revolta da armada -”, 1945, RJ, Liv. e Edit. Zelio Valverde, do Dr. Sérgio Corrêa da Costa).

Ao percorrer os fatos que marcaram fundamental período da história do Brasil, “A Diplomacia do Marechal” traz à nossa ciência valorosos episódios que marcaram a insatisfação daqueles que, militares e civis, diplomatas e simples cidadãos, a ponto de se instaurar a sangrenta “revolta da armada”; os registros do Dr. Sergio C. da Costa são assaz importante quando consideramos ter ele sido secretario no corpo diplomático e, portanto, tendo tido acesso aos arquivos do Itamaraty que corroboraram, e muito, à sua concretude. Além do mais, seu prefácio é da lavra do único ministro ainda vivo, em 1945, do Marechal Floriano Peixoto. Portanto, é ocioso maiores considerações acerca do tesouro literário ali registrado.

Em que pese a enorme lacuna informativa que nos é imposto sobre esta memorável guerra interna, - eis que a história republicana é forjada em uma proclamação (?) que jamais ocorreu – à revelia dos fatos que marcaram a tentativa de restauração da monarquia, há mais de 120 anos, por um nobre cidadão Brasileiro, Almirante Saldanha da Gama, é chegada a hora de trazermos à luz trechos do testamento político-militar que, por tanto tempo tem se mantido silente, à espera da busca audaciosa desta nova geração, ávida por conhecer a verdadeira história do Brasil. Avante!

O germe que culminou militarmente com a queda da próspera monarquia brasileira, encontra-se em um projeto de lei que fora julgado, pelo exército imperial, em 1883, “... prejudicial aos interesses da classe ...”; ocasião em que “O ‘comité’ de resistência criado no Exército”, nesse ano, “era já o embrião do ‘partido militar’ que, em breve, se sobreporia às organizações partidárias do Império”, rememora-nos o Dr. Sérgio C. da Costa (p.9).

Tal projeto, ressalta o autor, dizia respeito à economia pessoal dos militares, bem como o concernente à “livre manifestação do pensamento às obrigações da disciplina”, que, após longo debate, “tornou-se um ímpeto de prepotência, sem direção ou objetivos definidos a não ser a crescente submissão e sacrifício da autoridade civil.

Mas convém ressaltar que, apenas dois anos do golpe de Estado audaz, voraz, implacável e impopular (!) da república, precisamente aos 23 de novembro de 1891, “... Custódio de Melo (...) derruba o Govêrno com a simples ameaça dos seus canhões.” Ora, esta passagem que o autor nos relata em sua obra causa-nos, no mínimo, perplexidade..., pois, o Marechal Manoel Deodoro da Fonseca que até então era o líder do golpe de 1889, é derrubado por seus próprios pares, para em seguida entregar a novamente golpeada Chefia do Brasil ao “Marechal de Ferro”, Floriano Peixoto.

Não obstante todas as manobras político-militares para se tentar a todo custo, não importasse as consequências que adviriam à sociedade brasileira, – aliás, seu bem estar não contava do programa de governo...- o ano de 1893 fora de grande agitação por conta das dissensões entre militares e civis. A tensão era de tal envergadura que o Almirante Saldanha da Gama – Marinha do Brasil – afirmou que “...se as coisas chegassem a um ‘extremo muito agudo’, optaria pela revolta, fortificando-se na ilha das Cobras e removendo o hospital de sangue para a ilha das Enxadas ou do Governador. Hastearia a bandeira da restauração monárquica”, o que nós, também, já fizemos tanto na prática como na teoria, “a favor da qual se bandeariam os navios de Custódio, os federalistas do Rio Grande e a maioria do povo brasileiro.” (ob. cit. pp. 60/1).

O orgulho monarquista do Almirante, convicto e às claras, que jamais se convenceu, ou deixou persuadir, acerca da deslealdade ao Imperador Dom Pedro II, fora, inclusive, objeto dos argumentos do “Marechal de Ferro” para conseguir a adesão de Washington na guerra interna que se principiava. Nesse sentido, “A restauração, feita sob as vistas benévolas das esquadras estrangeiras”, que a este momento estavam ancoradas no Rio de Janeiro, em clima de elevada tensão, que a cisão entre membros das forças armadas pró e contra o governo Floriano suscitavam, “... deixaria uma porta aberta à influencia europeia.” (p. 71).

Eis que é cediço haver a simpatia de alguns países europeus à restauração do trono brasileiro, que possuía grande prestígio na comunidade internacional, na ocasião.

Por isso, diante da revolta de importantes corpus militares, seja pelo prestigio perante os colegas de farda, como pelo histórico de relevantes serviços prestados ao Império do Brasil, a preocupação do Marechal Floriano Peixoto fez com que “A 13 de dezembro de 1893, depois do manifesto de Saldanha, (...) informou, oficialmente, ao Governo americano que a ‘restauração do Império’ seria, daquele momento em diante, o objetivo dos insurgentes.” (ibidem).

A preocupação do Marechal era proporcional ao prestigio do Almirante, o qual, a serviço do Brasil em águas internacionais, não presenciou o golpe de 15 de novembro de 1889. Sua presença teria sido assaz importante à defesa do Trono Brasileiro, pois, diz o Dr. Sérgio C. da Costa que “Se aqui estivesse, asseguravam os saudosistas, teria salvo a dinastia com os canhões da esquadra, tal o seu prestígio na classe, comparável ao de Melo, Wandenkolk ou Jaceguai.” (p. 117).

O Almirante Saldanha da Gama morreu em combate, “Preso pelo coração à monarquia...” Por isso rendemos nossas homenagens à Força Naval do Brasil, que tem em sua ascendência um Brasileiro que honrou e engrandeceu sua classe. Diz o autor citado que “Só não lhe arrebataram o culto e a fidelidade da Marinha do Brasil à sua memória, sempre evocada com reverente admiração.” (p. 186).

Senhoras e Senhores cidadãos Brasileiros, leitores do Círculo Monárquico Brasileiro – Rio Grande do Norte, nos estudos que temos tido o inolvidável privilégio de debruçarmo-nos, seja pela fidedigna fonte da qual emanam, - tratando-se de lídimos escritores que vivenciaram parte dos fatos in loco, como pelos documentos fiéis – nos trazem imenso orgulho pelo tesouro guardado da história do nosso país, resta-nos uma convicção, assim como convicto restou Rui Barbosa em maio de 1895, em uma de suas cartas de Inglaterra: “Não há dúvida nenhuma que, sob a república atual, as nossas liberdades são incomparavelmente inferiores às que nos restavam sob a monarquia.” (Cartas de Inglaterra. Tomo II. ‘As minhas conversões’. p. 171. Liv. e Edit. Iracema. SP. 1966. 2ª ed.).

Lembremo-nos das augustas palavras de Sua Alteza Imperial e Real, Príncipe Dom Bertrand de Orléans e Bragança, no evento monárquico realizado pela Frente Dom Pedro II, sob a presidência do advogado Dr. Mozart Heitor França, de Curitiba-PR: “...queremos retornar o Brasil nos trilhos que jamais deveria ter saído...”

Janeiro de 2015.
Eduardo Tozzini. Advogado Ítalo-Brasileiro. OAB/PR n. 66.256. Monarquista.